quinta-feira, novembro 19, 2009

NO PALCO

Como numa peça de teatro, eles tinham os seus papéis bem definidos. Olhando de fora, com pouco esforço, toda a parafernália que envolve a aventura de fazer teatro poderia ser vista. As janelas eram a boca do palco. As cortinas eram as cortinas, nem sempre abertas. A sala de jantar, os quartos, o banheiro, a cozinha e até o corredor formavam o palco. Os personagens? O casal. Apenas o casal.

Haviam dias em que a peça virava comédia. Todos se divertiam muito. Festas e jantares com figurantes que chegavam de todos os lados. Brincadeiras, piadas, gargalhadas sinceras. Sarcasmo inteligente. Diversão garantida. Como se não houvesse direção, os fatos e acontecimentos considerados ridículos eram destacados como improvisação.

Haviam dias em que a peça virava drama. Daqueles melosos. Tipo novela mexicana. Com choro, gritos, acusações, auto piedade e argumentações quase palpáveis sobre o atoleiro em que a vida pode se transformar. Como se não houvesse direção, as lágrimas nem sempre convenciam e eram desacreditadas pelos próprios atores.

Haviam dias em que a peça virava aventura erótica. Lençol de cetim, travesseiros ajustados, posições malucas. Na sala, na cozinha. Tudo era sensual. Tudo acabava em satisfação dos sentidos no sentido mais sacana que se possa imaginar. Como se não houvesse direção, os corpos caiam no chão, exaustos um ao lado do outro, com ambos tentando lembrar as frases do roteiro.

Haviam dias em que a peça virava absurdo. Nada fazia sentido e nessa especialidade eles eram especialistas. Gritavam: "Na nossa casa, nunca ficamos entediados. Ligue o rádio que toca entre os meus dentes! Sintonize a sua estação preferida e dance, dance, dance!". Quebravam pratos e jogavam cartas contra o teto. Pisavam em livros e bebiam vinho. Como se não houvesse direção, acendiam incenso e homenageavam deuses e figuras que não conheciam.

Qualquer que fosse o tema do dia, no final, o público sempre deixava o teatro com aquele sentimento de que, certamente, no dia seguinte, o espetáculo iria recomeçar. E os atores se recolhiam às coxias. Às vezes animados, às vezes deprimidos. Mas, sentindo sempre que a vida era muito mais do que simplesmente ensaio. A vida brotava em cada lágrima e em cada sorriso. E acontecia no silêncio também, como se não houvesse direção.

(original: 17/Agosto/2005)

Yellow!

Um amigo meu disse o seguinte: "a Internet deu voz prá quem não deveria ter voz". Acho que concordo. Inclusive, eu acho que sou um dos que não deveria ter voz, mas... Já que eu tô aqui, é fácil, ando sem sono e escrever é uma coisa que relaaaxa (parodiando a Irmã Selma da Terça Insana: "cuidar de criança é uma coisa que relaaaxa a gente...")...

Além disso, eu vesti a cueca com a perna esquerda primeiro, depois do banho e, já que hoje estamos fazendo coisas diferentes, porque não um blog? Hehehehe... Infame... Mas verdade.

Como disse o meu amigo: "a Internet blá, blá, blá...". Pode me agradecer. Estou comprovando essa tese.

Abraço!