- Dessa vez é prá valer, pessoal. Hoje é o último dia! Quem aproveitou, aproveitou. Quem não aproveitou, não posso fazer nada: se estrepou! É isso aí! O fim do mundo chegou! Hoje é o dia do julgamento final. O dia do juízo! Até para aqueles que não tem nenhum! The judgement day! Zéfini procêis! Finito! Caput!
Dessa vez realmente parecia que era prá valer. Não havia dúvidas na voz de Deus. Apareceu de repente e nem pestanejou. Sentenciou as frase com uma firmeza que não deixava margens para interpretações.
- Senhor, é apenas uma metáfora, certo? O Senhor não vai realmente acabar com a gente, vai? Depois de todo o trabalho que o Senhor teve... (era o homem preocupado).
- Sete dias, meu filho. Sete dias... Não foi tanto trabalho assim..
- Mas, acabar com tudo? Assim de repente? Sem aviso?
- Como assim, sem aviso?
A voz de Deus, de repente mudou de tom:
- Depois de tantas catástrofes naturais. Depois de tantas doenças que dizimaram milhões e outras que estão por aí. Depois de tanta complacência com todas as cagadas que vocês fazem de tempos em tempos... E não vem com esse papo de "livre arbítrio", senão começo a me sentir culpado de novo por deixar nas suas mãos o destino desse planeta tão bacana. Dê uma olhada na sua história. Guerras, mortes, destruição do seu próprio ambiente, violência sem medidas. E você ainda diz: sem aviso?
- Senhor, como sempre, esse cavalheiro denominado "homem", está metendo os pés pelas mãos... Daqui a pouco vai começar a chorar... E então... Diga-me uma coisa Senhor... Aqui, só prá mim: o negócio é sério mesmo? (era a mulher desconfiada).
Deus falou alto e claro:
- É sério!
- Será que não podemos conversar. Negociar umas condições, tipo assim: dizima todo mundo, tudo bem. Mas poupa alguns milhares, eu inclusive, e começamos tudo de novo?
- Sinto muito, minha filha. Acho até que dei chances demais. Criei a essência humana baseada na harmonia e na força de toda a natureza que cerca seus corpos. Vocês não se deram conta e destruíram quase toda essa natureza, destruindo a si mesmos. Sempre tiveram o poder para comandar o mundo e, de alguma forma, o fizeram. Mas, não da forma como deveriam. Não da forma que transformaria esse planeta num lugar seguro, divertido, limpo, harmônico.
- Mas tio... E eu? Tenho ainda muita vida pela frente. E, além disso, a Letícia ainda não devolveu a minha Barbie. (era a criança assustada).
- Na real, minha criança, você é a criatura que carrega toda a esperança desse mundo. O fato de eu acabar com ele é uma outra história. Esse planeta já deu o que tinha que dar. É lindo, mas a grande maioria não soube apreciar toda a beleza que eu ofereci. E olha que eu não pedi nada em troca. Então, minha querida, fica tranqüila, que não vai doer nada. Agora, dá licença...
Puff! E foi-se! Sem mais nenhuma explicação, Deus acabou com o mundo. E realmente, Ele tinha razão: não doeu nada...
- Bom, e agora?
- E agora, o quê?
- O que sobrou? O que resta dizer?
- Nada, ué! Acabou-se...
- Como assim? Era isso? Vai ficar esse silêncio todo? Nenhuma mensagem? Nenhuma saída de mestre? Nenhum fim filosófico?
- Não... Pelo menos, não nesse texto...
- Próximo, por favor!
(original: 31/Agosto/2005)
domingo, fevereiro 14, 2010
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