- Prezado senhor, estou a lhe abordar com essas palavras, mesmo não tendo qualquer consideração por vossa senhoria, já que não lhe conheço de abordagens anteriores. Uso a palavra "prezado" simplesmente para dar início ao processo de uma maneira que possa causar o mínimo de traumas possível, principalmente para o senhor. Quero deixar claro que a consideração que dispenso pela sua pessoa é nenhuma. Não tenho intenção de ofendê-lo e, muito menos, prejudicá-lo fisicamente. Nesse momento e num futuro próximo, o senhor talvez sinta-se abalado moralmente e até mesmo demasiadamente assustado e paranóico, mas gostaria de dizer que esses sentimentos fazem parte do processo.
- Mas o que você quer de mim afinal?
- Digníssimo senhor, não quero crer que vossa senhoria seja ingênuo ou mesmo imbecil a ponto de não perceber que esta semi-automática que lhe aponto nesse momento, a qual carinhosamente denomino de "ferramenta de trabalho", não deixe claro os meus objetivos. De qualquer maneira, digno-me a esclarecer: desejo transferir todo o seu capital financeiro disponível nesse momento em sua carteira para o meu bolso esquerdo traseiro o mais rápido e discretamente possível, afim de não chamar a atenção dos oficiais de justiça que circulam por essa praça e que, provavelmente, podem causar-me desconforto no caso de perceberem o que está acontecendo. Gostaria imensamente de contar com a vossa colaboração no sentido de acabarmos logo com o processo, evitando assim, constrangimentos maiores.
- Meu Deus, estou sendo assaltado...
- Sinceramente, eu preferia que o senhor não usasse essa palavra tão indigna da minha pessoa. Prefiro usar a expressão "transferência de fundos sem o consentimento e/ou, eventualmente, sem o conhecimento do possuidor do bem e/ou dos bens". Modéstia a parte e, se me permite dizer, criei essa expressão após várias horas de meditação e deliberações mentais a respeito da minha profissão. Portanto, nobre senhor, acabemos com essas argumentações um tanto pragmáticas e façamos dessa transferência algo que nos enriqueça. No seu caso, espiritualmente e no meu, financeiramente.
- Por favor... Pode levar tudo...
- Agradeço imensamente a sua compreensão e quero que fique claro que não é nada pessoal. Como lhe disse antes, não lhe conheço. Também não pretendo formar laços de amizade ou convívio com o senhor. Da mesma forma, peço que não guarde mágoa da minha pessoa e, para o seu próprio bem, procure esquecer o mais breve possível os traços marcantes do meu rosto. Devo informar que esse procedimento será benéfico a todos. Dito isso, me despeço desejando que, pelo menos durante as próximas horas não voltemos a nos encontrar e que, no futuro, se o destino nos reunir novamente, possamos lembrar desse momento com tranqüilidade e satisfação e, quem sabe, repetir a transação. Até logo e tenha um bom dia.
(original: 28/Março/2006)
segunda-feira, janeiro 11, 2010
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Muito bom!
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