quarta-feira, janeiro 27, 2010

ENTRE UM FARELO E OUTRO

- Sonhei com a tua mãe essa noite?
- É mesmo?
- Foi.
- E aí?
- Nada demais... Vi ela na beira de um abismo.
- Nossa! Ela estava bem?
- Bem bêbada.
- Nossa! Mamãe não é de beber.
- Não que a gente saiba.
- Como assim?
- Nada não...
- E aí. O que mais você viu?
- Alcança a margarina, por favor? Bom, você sabe, sonho é sonho.
- Como assim?
- Nem sempre faz muito sentido.
- Como assim?
- Ela estava bêbada e agarrada no pescoço do Agenor.
- Do Agenor? O nosso vizinho?
- É.
- Que estranho...
- É...
- Realmente, sonho nem sempre faz muito sentido.
- Pois é...
- Imagina, a mamãe nem conhece o Agenor.
- Não que a gente saiba.
- Como assim?
- Nada não. Ela caminhava cambaleando na beira de um abismo, segurando uma garrafa de rum, agarrada no pescoço do Agenor e uivando que nem uma loba...
- Nossa! Que maluquice.
- Sonho é sonho.
- E o que mais?
- Deixa eu ver se eu lembro... Alcança o açúcar, por favor? Ah! Entre um uivo e outro ela dizia o nome do teu pai e caia na gargalhada.
- Nossa! Será que isso quer dizer alguma coisa?
- Quer geléia?
- Agora fiquei um pouco preocupada. Será que a mamãe está bem?
- Claro que ela está bem. Vem cá. Termina o teu café.
- Acho que vou ligar prá ela.
- Mas amor, é cedo ainda. Ela deve estar dormindo. E hoje é domingo.
- Eu vou ligar!

Saiu da mesa, pegou o telefone e discou.

- Alô? Mamãe?
- Não. Não é a mamãe...
- Quem é que está falando?!??
- Aqui é o Agenor.

(original: 22/Março/2006)

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